Propriedade é administrada por genro de Antério Mânica, que foi prefeito de Unaí e acabou condenado e preso por mandar fiscais do trabalho
O MST lembra que Mânica também teve seu nome ligado em 2023 a um caso de exploração de trabalhadores. Na ocasião, 84 trabalhadores rurais foram resgatados em condições análogas a escravidão. “Neste período, a Fazenda São Paulo assediou trabalhadores assentados vizinhos para que vendessem suas glebas de forma ilegal”, diz o movimento em nota.
A Fazenda São Paulo fica em Água Fria de Goiás (GO), na divisa com Minas e Distrito Federal. Ele é administrada por Marcos Rogério Boschini, que tem um contrato de parceria com seu sogro, Antério Mânica, que foi prefeito de Unaí de 2007 a 2012. Assim como ele, seu irmão Norberto Mânica foi condenado a 100 anos de prisão como mandante da chacina ocorrida na área rural da cidade.
Cerca de 500 famílias do MST cobram do Incra e do Governo Federal o assentamento imediato das famílias, a retomada das glebas públicas do Assentamento Terra Conquistada, em Água Fria de Goiás, para a reforma agrária. Também querem a desapropriação da Fazenda São Paulo, para ser convertida em projeto de assentamento.
A invasão desta segunda-feira faz parte do Abril Vermelho, iniciado no fim de semana com o intuito de pressionar o governo federal a agilizar a reforma agrária. Ao menos seis propriedades foram invadidas desde sábado (5), em Minas Gerais, Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte.
O MST anunciou ações até 17 de abril, marco dos 29 anos do Massacre de Eldorado do Carajás, em que 21 trabalhadores rurais foram mortos a tiros por policiais militares durante uma marcha no Pará. Outros 69 ficaram feridos. Desde então, apenas dois policiais, de 155 envolvidos, foram condenados.
O tema do Abril Vermelho em 2025 é “Ocupar para o Brasil alimentar”. Há previsão de ações nos 26 estados e no Distrito Federal, com foco em terras propícias à produção de alimentos. No início do ano, o grupo divulgou carta cobrando o assentamento de 100 mil famílias que, segundo o movimento, estão acampadas pelo país.
Já as mais recentes invasões ocorrem um mês após o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fazer a primeira visita a um assentamento do MST no atual mandato. Ele esteve em um assentamento em Campo do Meio (MG). Ao lado de ministros e da primeira-dama, Janja, afirmou que “tem lado” e não “esquece quem são seus amigos”.
“O ano de 2025 é o ano em que nós vamos colher tudo que preparamos entre 2024 e 2023. Esse ano não tem explicação, não tem choradeira, nós temos que entregar as coisas que nós prometemos durante a nossa campanha e as coisas que vocês acreditaram”, afirmou Lula na ocasião.
Lula anunciou editais e crédito para o programa de reforma agrária. Essa etapa do plano prevê o assentamento de 12 mil famílias. No evento também estava o ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira. Ele tem enfrentado críticas do MST, mas tem o apoio da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag).
PM de Minas não impede invasão no Vale do Rio Doce
Na madrugada do último sábado, mais de 600 famílias do MST ocuparam uma área às margens da BR-116, no município de Frei Inocêncio (MG), no Vale do Rio Doce, dentro das ações do Abril Vermelho. A ação reivindica a desapropriação da Fazenda Rancho Grande para fins de reforma agrária.
Em nota, a Polícia Militar de Minas Gerais informou que a segurança da área ocupada pelo MST está a cargo exclusivo do governo federal, “por se tratar de ‘faixa de domínio’ do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes, uma autarquia federal do Brasil”.
Pouco dias antes, o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (MG), subiu o tom contra o MST. Durante a Feira do Agronegócio Mineira (Femec), em Uberlândia, no Triângulo Mineiro, apareceu com um boné estampado com a frase “abril verde”, em oposição ao Abril Vermelho.
“Nós queremos é dar segurança a quem trabalha, a quem produz no campo, a quem alimenta os brasileiros e o mundo. Estaremos de prontidão, as nossas forças de segurança, para que o homem do campo, o produtor rural, possa ter paz e tranquilidade para produzir”, afirmou em seu discurso na feira agropecuária.
Após o discurso, Zema postou um vídeo na sua conta no Instagram, ainda com o boné: “Aqui em Minas, cerca existe para ser respeitada. Abril Vermelho, aqui não. Aqui em Minas, o abril é verde. É de quem trabalha, de quem produz no campo. O homem do campo precisa de paz para poder trabalhar. Estamos sempre vigilantes, dando apoio a quem produz e trabalha”, disse o governador na gravação.
Já em Pernambuco, cerca de 800 famílias ocuparam terras da Usina Santa Teresa, em Goiana, na Zona da Mata. Segundo Jaime Amorim, coordenador do MST no estado, o local é marcado por conflitos por terra. “A usina Santa Tereza foi uma das usinas mais violentas em Pernambuco, como todo o nordeste produtora de cana”, afirmou.