Mariana: julgamento de ação de atingidos que pede indenização bilionária a BHP começa nesta segunda-feira em Londres

 Mariana: julgamento de ação de atingidos que pede indenização bilionária a BHP começa nesta segunda-feira em Londres

Começa, nesta segunda-feira (21), em Londres, o julgamento da ação movida por cerca de 620 mil atingidos pelo rompimento da barragem da Samarco em Mariana, na Região Central de Minas Gerais, contra a anglo-australiana BHP, uma das controladoras da empresa.

Serão 12 semanas de depoimentos, sustentações orais, apresentação de evidências e testemunhos de especialistas. No dia 5 de novembro, a tragédia, que deixou 19 pessoas mortas, destruiu comunidades e contaminou o Rio Doce, completa nove anos.

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O processo corre desde 2018, mas, somente em julho de 2022, a Justiça inglesa decidiu julgar a ação. Os atingidos, incluindo municípios, comunidades indígenas, igrejas e empresas, reivindicam cerca de R$ 230 bilhões em indenizações.

A defesa das vítimas vai alegar que a BHP tinha conhecimento dos riscos de rompimento da barragem e, como acionista da Samarco, deve responder pelos danos causados.

Vista aérea de Bento Rodrigues após o rompimento de barragens de rejeitos da mineradora Samarco — Foto: Ricardo Moraes/Reuters

Vista aérea de Bento Rodrigues após o rompimento de barragens de rejeitos da mineradora Samarco — Foto: Ricardo Moraes/Reuters

Veja o cronograma previsto para o julgamento, segundo o escritório de advocacia Pogust Goodhead, que representa os atingidos:

  • 21 a 24 de outubro: declarações iniciais de ambas as partes;
  • 28 de outubro a 14 de novembro: interrogatório das testemunhas da BHP;
  • 18 de novembro a 19 de dezembro: oitiva de especialistas em direito civil, societário e ambiental brasileiros;
  • 20 de dezembro a 13 de janeiro: recesso;
  • 13 a 16 de janeiro: oitiva de especialistas em questões geotécnicas e de licenciamento;
  • 17 de janeiro a 23 de fevereiro: preparação das alegações finais;
  • 24 de fevereiro a 5 de março: apresentarão das alegações finais.

De acordo com a defesa dos atingidos, a expectativa é que a sentença seja proferida em meados de 2025.

Se a BHP for condenada a pagar indenizações, a Vale, acionista brasileira da Samarco, vai arcar com metade do montante. Em julho, as duas companhias fecharam um acordo em relação às ações judiciais em curso na Europa e combinaram que, em caso de condenação em qualquer um dos processos, vão dividir igualmente entre si os valores devidos.

Além da ação no Reino Unido, ajuizada contra a BHP, há uma em andamento na Justiça holandesa, em que a Vale é a ré – nesse caso, os atingidos pedem mais de R$ 18 bilhões em indenizações.

Em nota, a BHP afirmou que “refuta as alegações acerca do nível de controle em relação à Samarco, que sempre foi uma empresa com operação e gestão independentes” e “continua com sua defesa na ação judicial no Reino Unido, que duplica e prejudica os esforços em andamento no Brasil”.

A empresa disse também que a Fundação Renova, criada para a reparação dos danos causados pela tragédia, já destinou mais de R$ 37 bilhões às ações.

A Vale afirmou que “entende que o caso parece lidar com questões já abarcadas no Brasil, seja por processos judiciais, seja pelo trabalho de reparação realizado pela Fundação Renova”.

Relembre

Rompimento de barragem em Mariana em 2015 — Foto: AFP PHOTO / Douglas Magno

Rompimento de barragem em Mariana em 2015 — Foto: AFP PHOTO / Douglas Magno

A barragem de Fundão, da Samarco, rompeu em Mariana no dia 5 de novembro de 2015.

Cerca de 40 milhões de metros cúbicos de rejeitos de mineração destruíram comunidades e modos de sobrevivência, contaminaram o Rio Doce e afluentes e chegaram ao Oceano Atlântico, no Espírito Santo. Ao todo, 49 municípios foram atingidos, direta ou indiretamente, e 19 pessoas morreram.

Até o momento, ninguém foi responsabilizado criminalmente pela tragédia. Os réus – Samarco, Vale, BHP e VogBR, consultoria que atestou a estabilidade da barragem e sete pessoas físicas – foram interrogados em novembro de 2023, mas ainda não houve sentença.

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