Entenda a doença que causou a morte de 20 equinos e interdição de propriedades rurais no Vale do Jequitinhonha
Profissionais do IMA iniciaram o processo de saneamento nas fazendas, que consiste em testar 100% dos animais restantes.
Fiscal do IMA faz inspeção em fazenda onde animais testaram positivo para a AIE — Foto: Divulgação/IMA
As duas fazendas foram interditadas pelo IMA, mesmo após a remoção dos animais positivos. Agora, os profissionais do órgão iniciaram o processo de saneamento nas propriedades, que consiste em testar 100% dos animais restantes.
Se todos apresentarem resultado negativo, o IMA informou que a testagem será repetida em um intervalo de 30 a 60 dias. Caso todos os exames tenham resultados negativos nessa segunda etapa, a propriedade será liberada e o foco considerado eliminado.
No entanto, se algum animal testar positivo em qualquer uma das fases, o processo é reiniciado. Nesse caso, o animal infectado será abatido, e uma nova coleta de material será feita em todos os demais animais. O ciclo se repete até que duas testagens consecutivas, realizadas em todos os animais, apresentem resultados negativos. Somente assim, a propriedade será desinterditada e o foco considerado resolvido, informou o órgão.
Como ocorreu a notificação?
Em julho deste ano, o Escritório Seccional do IMA foi notificado por um produtor rural sobre a suspeita de doença em um de seus equinos. Respondendo rapidamente à notificação, médicos veterinários do IMA se dirigiram à propriedade para investigar.
Durante a visita, os sinais clínicos observados levantaram suspeitas de Anemia Infecciosa Equina (AIE), uma doença viral sem cura, altamente contagiosa e de notificação obrigatória.
Além do primeiro animal doente, outros equinos da propriedade apresentavam sinais de comprometimento de saúde. Dias depois, uma propriedade vizinha também notificou casos semelhantes, culminando em exames que confirmaram a doença em 20 equinos no total.
A AIE é caracterizada pela destruição dos glóbulos vermelhos, resultando em anemia severa e, em muitos casos, levando à morte. Na maioria das vezes, é uma doença silenciosa, assintomática, mas que se dissemina rapidamente entre os equídeos. Como não há método de prevenção nem tratamento, uma das medidas para controlar a disseminação da doença é o abate sanitário.
Entenda a doença
A Anemia Infecciosa Equina (AIE) é uma doença endêmica que pode acometer os equídeos (cavalos, éguas, mulas, burros, jumentos, pôneis) de qualquer raça, sexo ou idade. Com áreas de alta prevalência, como o Vale do Jequitinhonha e o Norte de Minas, enquanto regiões como o Sul de Minas, Triângulo e Centro do estado apresentam baixa prevalência.
Uma das formas de transmissão da doença é através das grandes moscas mordedoras, como Stomoxys calcitrans (mosca-dos-estábulos) e Tabanus sp (mutuca), que se desenvolvem em ambientes quentes e úmidos. Esses insetos vetores encontram nesses locais condições favoráveis para proliferar.
A médica veterinária, fiscal agropecuária e assessora técnica de defesa animal da Coordenadoria Regional do IMA, em Almenara, Mércia Pontes, explicou que objetos infectados com sangue também podem transmitir a doença.
“Objetos infectados com sangue contaminado, compartilhados entre os animais de uma propriedade. Arreios, freios, agulhas utilizadas durante a vacinação, então eles vão contaminando um animal, passando de um para o outro”.
Mércia explicou também que a doença é assintomática, mas que sintomas podem surgir, entre eles estão a perda de peso e febre alta.
“O animal portador de Anemia Infecciosa Equina geralmente é assintomático. Mas ele pode apresentar, no início da doença, febre alta intermitente e perda de peso. Esse animal normalmente se recupera. Depois ele entra na fase crônica, onde ele tem recaídas. Volta a ter febre, perda de peso, fica cansado, perde a força de trabalho, que é um sinal bem característico. Depois desse período, que dura aproximadamente um ano, o animal fica assintomático. Ele não apresenta mais os sinais clínicos, mas continua transmissor, e por toda a vida”.
“A principal forma para saber se o animal é positivo ou não é através de exames laboratoriais. O ideal é que, ao se introduzir o animal na propriedade, mesmo que ele tenha vindo acompanhado do atestado negativo para AIE, ele permaneça isolado dos demais animais da propriedade por um período aproximado de 30 a 60 dias e se repita o exame. Porque no início da doença o nível de anticorpo é baixo no corpo do animal, então provavelmente ele vai dar negativo”, explicou Mércia.
Ações do IMA na prevenção de focos:
IMA em propriedade rural de Almenara — Foto: Divulgação/IMA
O IMA explicou que foram realizadas diversas ações de conscientização junto aos produtores e à sociedade em geral, incluindo palestras e participação em eventos, sempre orientando sobre a obrigatoriedade de emitir a Guia de Trânsito Animal (GTA) na comercialização de equídeos.
Para emitir a GTA, o produtor precisa apresentar os exames do animal, permitindo a identificação de algum caso positivo para a Anemia Infecciosa Equina (AIE). Se o resultado for positivo, é iniciado imediatamente o processo de saneamento do foco, testando todos os animais da propriedade.
Por isso, a emissão da GTA é tão importante: além de garantir a regularidade do trânsito dos animais, ajuda a monitorar e controlar doenças, protegendo o rebanho e a saúde pública.
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