Investigação por corrupção envolveu, até aqui, somente atos na Bahia, mas operação na quinta-feira gerou receio na política de MG
A investigação da Polícia Federal (PF) que resultou no afastamento — e na posterior exoneração — de Bruno Barral do cargo de secretário de Educação de Belo Horizonte, na quinta-feira (3), contou com grampos ambientais autorizados pela Justiça. A ação, que representa a terceira fase da Operação Overclean, teve como alvo um suposto esquema de fraudes em licitações inicialmente identificado em Salvador (BA).
Por ora, o inquérito se concentra em apurações relacionadas à Bahia, mas há, entre lideranças mineiras, apreensão quanto a uma possível extensão da investigação para Minas Gerais e Belo Horizonte.
O principal motivo de preocupação está relacionado à apreensão do celular e de documentos na residência de Barral durante a operação realizada na semana passada.
Durante as buscas, a Polícia Federal encontrou R$ 120,8 mil em espécie – entre reais, dólares e euros – na casa do secretário, segundo reportagem da jornalista Malu Gaspar, do jornal “O Globo”.
A decisão de afastamento foi determinada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Kassio Nunes Marques. Horas depois da decisão judicial, a Prefeitura de Belo Horizonte oficializou a exoneração definitiva de Barral do cargo.
Ainda segundo Gaspar, o empresário José Marcos de Moura, conhecido como “Rei do Lixo”, negociou diretamente com o então prefeito Fuad Noman (PSD) a indicação de aliados do União Brasil para secretarias de Belo Horizonte, incluindo Bruno Barral para a pasta da Educação.
De acordo a reportagem, os investigadores da PF encontraram no celular do empresário diálogos via WhatsApp com Fuad após a reeleição do prefeito, tratando sobre o espaço que o partido teria no segundo mandato. A nomeação de Barral, em abril de 2024, fez parte da negociação para que o União Brasil apoiasse a chapa do prefeito, que enfrentava dificuldades nas pesquisas eleitorais.
As conversas captadas pela Polícia Federal indicam que Moura pleiteou duas secretarias desde o início, incluindo a de Educação. Conforme apurado por Malu Gaspar, Fuad tentou resistir à pressão, oferecendo ao União Brasil a criação de duas outras pastas de natureza social e pedindo que Moura “abrisse mão” de manter Barral na Educação.
Rei do Lixo
Bruno Barral é apontado pela PF como integrante de um grupo suspeito de fraudes em licitações, desvio de dinheiro público e lavagem de dinheiro através de contratos firmados durante sua gestão na Secretaria de Educação de Salvador, no segundo mandato de ACM Neto, que também mantém proximidade com o “Rei do Lixo”.
Segundo a reportagem de “O Globo”, apreensões de grandes quantias em dinheiro vivo são recorrentes na Operação Overclean, que já havia localizado R$ 3,3 milhões nas casas e escritórios da primeira leva de investigados, incluindo o próprio José Marcos de Moura.
O esquema investigado teria movimentado R$ 1,4 bilhão, segundo a PF, envolvendo desvio de emendas parlamentares direcionadas pelo Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS) a prefeituras que realizavam licitações e contratos fraudulentos.