A CADA 15 MINUTOS UMA PESSOA MORREU DE COVID-19 EM MINAS EM JANEIRO
As festas, viagens e todos os outros desrespeitos às medidas de contenção do novo coronavírus contribuíram para que janeiro fosse o pior mês desde o início da pandemia no Estado
As festas de fim de ano, as viagens para praia e todos os outros desrespeitos às medidas de contenção do novo coronavírus contribuíram para que janeiro fosse o pior mês desde o início da pandemia em Minas Gerais. A cada 15 minutos, a média é de uma morte.
Em 30 dias, foram 2.938 óbitos — quase 100 por dia. No mesmo período, 183.084 pessoas contraíram a enfermidade do Estado. E, para piorar, não há expectativa de refresco. Especialista ouvido pela reportagem prevê que, em fevereiro, o número de pessoas infectadas deve seguir alto.
Para se ter uma ideia da alta, em dezembro de 2020, foram registrados 1.861 óbitos. Isso significa que, na comparação com o último mês de 2020, janeiro acumulou 1.077 mortes a mais (aumento de 57%). Com relação a novembro, a diferença é ainda mais gritante. O penúltimo mês de 2020 teve 1.026 mortes relacionadas à Covid-19, ou seja, 1.921 falecimentos a menos do que o número registrado no primeiro mês de 2021 (crescimento de 186%).
Cansaço e festas
Para o infectologista Leandro Curi, o motivo do “boom” de casos em janeiro é a junção da quebra dos protocolos sanitários e as festas que ocorrem no fim de 2020. “As pessoas estão cansadas, o ser humano está relaxando. Muitas pessoas pegaram e ficaram assintomáticas, outras tiveram poucos sintomas. No entanto, o vírus continua da mesma maneira”, explicou.
O especialista acredita ainda que as notícias fake news relacionadas aos remédios ineficazes para o tratamento da doença e as orientações confusas dos políticos concorreram para o relaxamento da população. “Várias lideranças falando de maneira desconexa sobre abrir ou fechar (comércios), e as notícias falsas contribuem. Desse modo, estamos dando munição para o vírus”, alertou.
E as perspectivas?
A um dia da reabertura do comércio da capital mineira, anunciada nesta sexta-feira (29) pelo prefeito Alexandre Kalil (PSD), Curi não acredita em uma queda no número de infecções. “Não acredito que a população vai cooperar. O aumento no número de casos mostra isso”, avisou. O feriado de carnaval, que não foi suspenso em muitas empresas, é outra oportunidade para viagens. “Cada mês, há uma novidade. E ainda não sabemos como será a transmissão da nova cepa encontrada em Manaus”, acrescenta Curi.
“Tem que doer na carne”
Fernando Luiz Esteves, de 47 anos, perdeu o pai, Mário Esteves, de 81, para a Covid-19 em junho do ano passado. Ele vê os desrespeitos com relação aos protocolos de saúde como irresponsabilidade.
“Isso acontece porque quem desrespeita (os protocolos) não perderam alguém da família. A gente teve todo o cuidado. Meu pai só saiu de casa duas vezes. Na primeira ele foi ao hospital e voltou, e na segunda ele não voltou. Os jovens continuam indo em festas porque acham que são imunes”, lamenta.
A mãe de Esteves, Elza de Oliveira, de 78 anos, também teve a doença. Ela ficou 20 dias hospitalizada. Nesse período, o marido adoeceu. Quando Elza teve alta, o companheiro já havia falecido há cinco dias. “Levamos minha mãe para o interior. Eles falam que não ‘pega’ de novo, mas vai saber”, finalizou Esteves.