A Gazeta do Povo publica, com exclusividade no Brasil, o perfil do cardeal Luis Antonio Tagle preparado pelos vaticanistas Diane Montagna e Edward Pentin, autores do projeto The College of Cardinals Report. Jornalistas com décadas de experiência na cobertura do Vaticano, Montagna e Pentin escreveram perfis de todos os cardeais apontados como principais candidatos a suceder Francisco no comando da Igreja Católica, com informações biográficas e suas posições sobre temas em debate dentro da Igreja.
A Gazeta do Povo publica, com exclusividade no Brasil, o perfil do cardeal Luis Antonio Tagle preparado pelos vaticanistas Diane Montagna e Edward Pentin, autores do projeto The College of Cardinals Report. Jornalistas com décadas de experiência na cobertura do Vaticano, Montagna e Pentin escreveram perfis de todos os cardeais apontados como principais candidatos a suceder Francisco no comando da Igreja Católica, com informações biográficas e suas posições sobre temas em debate dentro da Igreja.
O avô paterno de Luis Antonio Gokim Tagle era de uma família filipina de classe alta, e sua avó materna era de uma família chinesa abastada que migrou para as Filipinas. Um de dois filhos, ele frequentemente é conhecido pelo apelido, “Chito”.
Chito originalmente se preparou para se tornar um médico, mas foi, de certa forma, “enganado” para que considerasse o seminário, algo que mais tarde o levou a rir sobre como as “piadas” de Deus e dos outros podem influenciar a vida de uma pessoa.
Os jesuítas desempenharam um papel importante em sua formação, tendo-o ensinado no Seminário San José e, depois, na Universidade Ateneo de Manila, onde obteve o título de bacharel, em 1977, e depois o mestrado em Artes. Deixando os jesuítas, foi ordenado padre pela Arquidiocese de Manila em 1982. Imediatamente, tornou-se diretor espiritual e professor no seminário local, do qual foi reitor de 1983 a 1985.
Enviado aos Estados Unidos por seu bispo, Tagle obteve uma licença em Teologia em 1987; em seguida, conseguiu o doutorado em 1991, com uma tese sobre o tópico da colegialidade episcopal na práxis e doutrina de Paulo VI, sob orientação do teólogo Joseph Komonchak. Isso abriu as portas para Tagle se tornar um proeminente proponente da “Escola de Bolonha” de eclesiologia e historiografia, que vê o Concílio Vaticano II como uma ruptura com o período pré-conciliar. Por 15 anos subsequentes, ele fez parte do conselho editorial do projeto de pesquisa histórica “História do Vaticano II”, supervisionado por Giuseppe Alberigo.
Aclamado como o “Francisco asiático”, o cardeal Luis Antonio Tagle possui não apenas atributos semelhantes aos de Jorge Bergoglio e uma vasta experiência pastoral e administrativa, mas também um treinamento teológico e histórico significativo
Retornando às Filipinas, Tagle serviu como Vigário Episcopal para Religiosos de 1993 a 1995 e como pastor da paróquia da catedral de Imus de 1998 a 2001. Em 2001, João Paulo II nomeou Tagle bispo de Imus, onde serviu até que Bento XVI o nomeasse arcebispo de Manila, em 2011. Seu apostolado teológico incluiu servir como membro da Comissão Teológica Internacional de 1997 a 2003. Ele também participou da Federação de Conferências Episcopais Asiáticas. Bento XVI criou Tagle cardeal em 2012 e, depois disso, ele trabalhou em muitos conselhos e congregações. O cardeal Luis Antonio Tagle participou de recentes Sínodos dos Bispos em Roma – sobre a Nova Evangelização, em 2012; sobre a família, em 2014 e 2015; sobre a juventude, em 2018; e sobre a Amazônia, em 2019.
Em 2015, o cardeal Luis Antonio Tagle tornou-se presidente da Caritas Internationalis e foi reeleito para outro mandato de quatro anos em 2019. Em novembro de 2022, o papa Francisco “varreu a liderança da Caritas Internationalis, incluindo o cardeal Tagle”, como disse um veículo de comunicação.
Em 2019, Francisco chamou Tagle para residir em Roma como prefeito da prestigiosa Congregação para a Evangelização dos Povos. Após a reestruturação da congregação, foi anunciado que Tagle seria pró-prefeito do novo Dicastério para a Evangelização. Em 2020, o papa elevou Tagle ao posto de cardeal-bispo, possivelmente indicando que o cardeal filipino era um sucessor favorecido naquela época.
Aclamado como o “Francisco asiático”, o cardeal Luis Antonio Tagle possui não apenas atributos semelhantes aos de Jorge Bergoglio e uma vasta experiência pastoral e administrativa, mas também um treinamento teológico e histórico significativo. De fato, em certa época ele foi considerado o sucessor preferido do papa Francisco, mas desde então parece já não estar tanto nas graças do pontífice.
O cardeal Luis Antonio Tagle não tem medo de compartilhar suas emoções e sentimentalismo em público – na verdade, ele parece ansioso para fazê-lo. Frequentemente demonstra um lado brincalhão, como quando dança com jovens ou celebra a missa de forma folclórica e casual. No entanto, Tagle é conhecido como um negociador astuto, e ele emprega táticas políticas com sofisticação.
Tagle frequentemente usa o púlpito para tratar de temas de justiça social, mas suas posições sobre questões morais parecem um tanto incoerentes
Sua tutela sob os jesuítas nas Filipinas e seus estudos de pós-graduação nos Estados Unidos, os 15 anos subsequentes de trabalho com Joseph Komonchak e Giuseppe Alberigo, e conexões com a “Escola de Bolonha” o colocam firmemente mais no campo daqueles com uma visão eclesiológica progressiva – embora ele próprio prefira evitar tais rótulos.
Tagle frequentemente usa o púlpito para tratar de temas de justiça social, mas suas posições sobre questões morais parecem um tanto incoerentes. Por um lado, ele protestou (embora com menos veemência que alguns de seus colegas bispos) contra um projeto de lei filipino de “saúde reprodutiva” que introduziu políticas antifamília e antivida, e falou fortemente contra o aborto e a eutanásia. Por outro lado, o cardeal Tagle sustenta que existem algumas situações em que os princípios morais universais não se aplicam, como no caso da comunhão para casais que vivem maritalmente, mas sem casamento sacramental, e no caso de questões relacionadas à homossexualidade. Ele se opõe ao uso de linguagem “dura” ou “severa” ao descrever certos pecados e acredita que a Igreja precisa “aprender sobre” seu ensinamento de misericórdia devido, em parte, às “mudanças nas sensibilidades culturais e sociais”. Em suma, ele minimiza a gravidade de tais pecados e o escândalo público que eles dão.
Mas, quando se trata de causas populares, o cardeal Luis Antonio Tagle mostrou ser um defensor firme e vocal. Isso é especialmente verdadeiro em questões como ecologia, como demonstra sua participação ativa no controverso “ritual da Pachamama”, nos jardins do Vaticano, em 2019. Com suas declarações ambíguas sobre a bondade de todas as religiões, esses fatores levantam questões sobre o que Tagle acredita ser a essência do evangelho.
Sua nomeação como prefeito da Congregação para a Evangelização dos Povos e elevação ao posto de cardeal-bispo colocam Tagle em uma posição favorável para o papado se os cardeais votantes desejarem a continuidade do pontificado de Francisco, com outro papa do “sul global”.
O cardeal Luis Antonio Tagle é conhecido por suas habilidades linguísticas. Além do tagalog, seu idioma nativo, ele é fluente em inglês e italiano, e tem conhecimento de francês, coreano, chinês e latim.
O que o cardeal Luis Antonio Tagle pensa sobre…
Ordenação de diaconisas: É contra. O cardeal Tagle não fez uma declaração pública sobre a ordenação de mulheres ao diaconato. Ele serviu em um comitê do Vaticano que determinou que “um ministério de diaconisas de fato existia”, mas esse ministério “não era percebido como simplesmente o equivalente feminino do diaconato masculino”.
Bênção para casais do mesmo sexo: É ambíguo. O cardeal Luis Antonio Tagle ainda não fez uma declaração pública sobre Fiducia supplicans. O grupo pró-LGBTQ New Ways Ministry disse que Tagle tem um “histórico geralmente pró-LGBTQ”, tendo falado anteriormente contra “palavras duras” dirigidas a católicos LGBTQ. Esse fator, junto com as posições geralmente progressistas e pró-Francisco do cardeal Tagle, torna muito possível que ele apoie a bênção de casais do mesmo sexo, mas sua posição exata não está clara.
Tornar opcional o celibato para os padres: É ambíguo. O cardeal Tagle falou sobre a necessidade de discutir o celibato clerical com mente aberta. “Alguns o consideram culpado por todos os tipos de má conduta sexual. Outros o defendem, mas de uma forma estritamente legalista que se mostra ineficaz”, disse ele. “Precisamos de uma consideração serena, mas abrangente, do assunto.”
Restrições à missa tridentina: É ambíguo. Embora o cardeal Luis Antonio Tagle pareça não ter feito nenhuma declaração específica a favor das restrições à missa tridentina, ele falou de forma mais geral sobre a necessidade de os católicos abrirem mão do desejo de “testemunhar Cristo em algum passado idealizado que eles anseiam com nostalgia”. Como um cardeal progressista leal ao magistério de Francisco e membro do Dicastério para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos desde 1.º de junho de 2022, é provável que ele apoie a restrição à missa tridentina implantada neste pontificado.
Acordos secretos entre China e Vaticano: É a favor. O cardeal Luis Antonio Tagle defende o acordo com a China sobre a nomeação de bispos, dizendo que seu propósito é “salvaguardar a sucessão apostólica válida e a natureza sacramental da Igreja Católica na China”, e que “isso pode tranquilizar, confortar e animar os católicos batizados na China”. Respondendo aos críticos dos acordos, o cardeal Tagle diz que a existência de algumas reações negativas ao acordo é “parte do processo” e que “sempre é preciso sujar as mãos com a realidade das coisas como elas são”.
Promover uma “Igreja sinodal”: É a favor. Em comentários a uma associação de padres dos EUA, o cardeal Tagle disse: “Minha visão para uma igreja sinodal é uma igreja que redescobre esse maravilhoso dom do Espírito dado a toda a igreja no Vaticano II”. Sobre os esforços para minar o processo sinodal, ele disse que “isso realmente, de certa forma, me dói e me choca. Não quero julgar as pessoas. Mas às vezes eu só queria que as pessoas lessem calmamente, calmamente, os documentos do Vaticano II…”
Foco nas mudanças climáticas: É a favor. Forte defensor da encíclica ambiental Laudato Si’, do papa Francisco, o cardeal Tagle enfatizou a importância de ouvir “o clamor da Terra” e combater o “antropocentrismo equivocado”.
Reavaliar Humanae vitae: É a favor. A abordagem do cardeal Tagle em relação à encíclica alinha-se com uma tendência mais ampla dentro de partes da liderança atual da Igreja de reler e contextualizar a Humanae vitae à luz de questões contemporâneas e dar-lhe uma ênfase mais “pastoral”.
Comunhão para divorciados “recasados”: É ambíguo. Em vez de oferecer uma resposta clara de “sim” ou “não”, o cardeal Luis Antonio Tagle sustenta que “cada situação daqueles que são divorciados e recasados é bastante única”. Uma regra geral, ele acrescentou, “pode ser contraproducente no final. Minha posição no momento é perguntar: ‘Podemos levar todos os casos a sério e há, na tradição da Igreja, caminhos para abordar cada caso individualmente?’ Esta é uma questão sobre a qual espero que as pessoas percebam que não é fácil dizer ‘não’ ou ‘sim’. Não podemos dar uma fórmula para todos”.
“Caminho sinodal alemão”: Não se sabe. Não foi possível encontrar nenhuma declaração do cardeal Tagle sobre o assunto.
Dados pessoais
Nome: Luis Antonio Gokim Tagle
Data de nascimento: 21 de junho de 1957 (67 anos)
Local de nascimento: Manila (Filipinas)
Criado cardeal: 24 de novembro de 2012, por Bento XVI
Posição atual: pró-prefeito do Dicastério para a Evangelização
Lema: Dominus est (“É o Senhor”)
Fonte: https://www.gazetadopovo.com.br