Polícia Civil abre inquérito para investigar construção da Cidade Administrativa
Apurações começam 14 anos após inauguração da sede do governo, em meio à crise envolvendo elevadores dos prédios Minas e Gerais.
Mais de 14 anos após a inauguração, a Polícia Civil de Minas Gerais instaurou um inquérito para investigar possíveis irregularidades na construção da Cidade Administrativa, sede do governo. A instituição não deu mais detalhes sobre a apuração.
- A abertura do inquérito acontece no momento em que os trabalhos presenciais na sede do governo estão suspensos após detecção de falhas nos elevadores dos prédios Minas e Gerais. Neste sábado (11), o governo publicou as normas para o home office (veja mais abaixo).
A Cidade Administrativa começou a ser construída em 2007 e foi inaugurada em 4 de março de 2010. A obra, feita durante a gestão de Aécio Neves (PSDB) à frente do governo estadual, já foi alvo de investigações anteriores, de órgãos como o Ministério Público e a Polícia Federal.
Em nota, o ex-governador e atual deputado federal disse que, na época, a obra passou “por vistorias de todos os órgãos técnicos responsáveis que não detectaram qualquer problema” e que os últimos três governos, incluindo o atual, “também não se apontou qualquer deficiência”.
Neves ainda diz que a questão dos elevadores foi apontada muito recentemente e que “não houve agilidade administrativa para resolver a questão”. “Tentar mais uma vez transferir responsabilidades só acentua o já conhecido despreparo da atual administração”, concluiu o deputado.
Elevador do Prédio Minas, da Cidade Administrativa, interditada com faixa de sinalização. — Foto: Reprodução/TV Globo
Acusações do vice-governador
Em coletiva de imprensa realizada na manhã desta sexta-feira (10), o vice-governador Mateus Simões (Novo), sem citar nomes, acusou a gestão de Neves de superfaturamento na obra.
“Quem contratou [a obra] estava tão preocupado em garantir a sua beiradinha no contrato que não se preocupou em garantir a segurança de elevadores que transportam atualmente mais de 8 mil pessoas todos os dias. […] É inadmissível que os agentes públicos e políticos que eram responsáveis por essas obras e, obviamente, também os agentes privados de execução, não sejam responsabilizados”, disse o vice-governador.
Ele ainda citou acordos de leniência firmados entre empreiteiras e o Governo de Minas em 2021 e 2022 que, segundo ele, “demonstram que esses prédios foram construídos com prática de corrupção e desvio de dinheiro por parte de agentes privados e públicos envolvidos na construção da Cidade Administrativa”.
Mateus Simões foi filiado ao PSDB entre 1997 e 2016 e chegou a ser candidato a deputado estadual pelo partido em 2014. Ele saiu da legenda e se filiou ao Novo em 2016, quando se elegeu vereador em Belo Horizonte.
Luísa Barreto, chefe da Secretaria de Planejamento e Gestão, que está à frente dos trabalhos de reparo dos elevadores, também foi integrante do partido entre 2019 e 2023 e participou das gestões de Aécio e Antônio Anastasia (PSDB) como servidora.
Em nota, o PSDB classificou as declarações de Simões de “levianas e irresponsáveis” e que “desmascaram a incompetência da atual gestão de Minas Gerais que se especializou, ao longo do tempo, em transferir responsabilidades sem assumir as suas”.
Reforça, ainda, que o governo Zema está em seu sexto ano de mandato e que “prefere politizar de forma vergonhosa uma questão que, pela sua relevância, deveria estar sendo tratada com maior seriedade e responsabilidade”.
Salienta, ainda, que a obra da Cidade Administrativa passou por “análise de todos os órgãos de fiscalização, em pleno e correto funcionamento” e que “a responsabilidade pela manutenção correta de qualquer obra pública é de responsabilidade das diferentes administrações que se sucedem”.
Polícia Civil investiga irregularidades na construção de elevadores da Cidade Administrativa
Decreto de teletrabalho
Em virtude dos problemas nos elevadores, o Governo de Minas Gerais publicou no Diário Oficial deste sábado (11) o decreto que autoriza e regulamenta o regime de teletrabalho integral para servidores do Executivo na Cidade Administrativa, nos moldes adotados no período da pandemia.
O decreto não tem prazo de vigência e se aplicando “durante o período de paralisação do uso dos elevadores sociais e privativos dos prédios Minas e Gerais, para servidores que desempenhem atividades compatíveis com o regime de teletrabalho”.
Os servidores poderão ser convocados para atividades e reuniões presenciais em outras localidades que não a Cidade Administrativa. Caso o funcionário público queira ir até a sede do governo para retirada de documentos e objetos ou realização de trabalho, deverá assinar um termo de responsabilidade.
Os trabalhos que não puderem ser realizados de forma remota poderão ser ajustados a outros espaços ou aos andares inferiores da sede do governo, conforme anunciado pelo governo nesta sexta (10). Há possibilidade de abono para aqueles que não conseguiram trabalhar entre o dia 1º e 10 de maio.
Aviso de elevador indisponível na Cidade Administrativa. — Foto: Reprodução/TV Globo